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A ARTE HIPPIE PARA OS RICOS


O relato de uma artesã hippie que vive de forma simples expondo seu trabalho, e encontra no grande centro, um público classe média alta para a sua arte


Consolação próximo a Augusta, na calçada de frente à um grande shopping forma-se todo dia uma espécie de feira artesanal à céu aberto, vê-se todo tipo de material e criações impressionantes
Andando pela Paulista, sentido Masp, encontramos ao lado do metrô Trianon, a artesão Irina, 25, sentada sozinha expondo seus acessórios artesanais, enquanto entretida trançava um colar. Sentamos com ela para um bate papo, quase entrevista, para descobrir um pouco de sua história, narrada por um tranquilo sotaque espanhol.

Irina é da Suíça, saiu de lá para viver seu sonho de viajar pelo mundo. Seu primeiro destino foi o Chile, onde já chegou fazendo alguns trabalhos manuais e decidiu viver apenas disso. Já esteve também por terras Argentinas, Uruguaias e agora o Brasil, onde está há seis meses. Segundo ela, todos os lugares por onde já passou foram o que esperava. As experiências e liberdade do seu sonho é indescritível, e apesar da fragilidade de sua exposição na rua, disse nunca ter tido nenhum problema, e havíamos acabado de ser abordadas por um senhor hippie, curioso e um tanto “simpático” demais que só nos deixou, por Irina saber como lidar com a situação.


“Eu decidi por isso, ninguém me mandou fazer, eu gostava das coisas manuais desde pequena, eu era criança e já produzia colares, passava a noite fazendo coisas.”

 Sua moradia no Brasil é um hotel próximo a Estação Brigadeiro, por ali mesmo na Av. Paulista, e tem por companhia seu namorado, também artista independente, um malabarista. Ela disse gostar muito de experimentar coisas novas e estar sempre inventando alguma peça diferente no seu trabalho, desde pedras diversas com significados espirituais, até cobre e linhas. Diz não possuir nenhuma religião ou crença específica, sua filosofia de vida é por sua conta. Citou ter estudado psicologia, mas não se aprofundou no assunto. Já voltou algumas vezes para a Suíça para renovar a documentação do passaporte, e apesar da falta que sente dos pais, por enquanto não pensa em voltar, pois está feliz em estar aqui vivendo seu sonho.
Perguntamos como era a receptividade das pessoas com sua arte, e disse que há quem “olhe torto”, mas há também quem pare para conhecer, e então reconheça o valor do trabalho artesanal. Nos respondeu, que nunca sofreu repressão de policiais, e que não é necessário permissão para exposição livre nas calçadas, que só houve algumas restrições na época do Mundial da Fifa.

 Pulseiras trançadas em cores e linhas, peças que sabe fazer desde criança
 O trabalho em pedras de simbologia espiritual, a que a mão aponta é um cristal, "harmoniza as energias e os sentimentos da alma"



O que podemos observar, essencialmente, não apenas nesse contanto com a Irina, mas toda a expressão diária que vemos quase como um intervenção nas nossas rotinas, de artistas de rua, independentes e livres, é essa alegria e satisfação genuína em fazer o que gostam com amor e criatividade. Faz parecer que essa loucura que vivemos, nessa sociedade extremamente consumista e irracional é que deveria ser a estranheza e não os hábitos seus hábitos livres. Sem luxo ou qualquer conformismo típico da nossa geração, ela estava satisfeita por seguir seus sonhos, produzindo a arte que ama e tendo a admiração de todo tipo de classe social, vivendo com uma simplicidade tão distante de preocupações supérfluas, sua filosofia é fazer sua arte e seu próprio caminho.

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Fotografias: Priscila Ferreira

Um comentário:

  1. O Artesão, talvez possa se orgulhar de todas as estradas como o próximo caminho. Se assim o desejar. E isso o faz seguir em frente com muito prazer em realizar a Arte pulsante e contínua, própria de sua Natureza. Kanhoto

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